“Lembra-te
de quem és!” – Foi uma mensagem que encontrei um dia, enquanto passeava por uma
das ruas de Lisboa. Chamou-me a atenção pela sua profundidade. Pela dificuldade
que senti em responder com clareza. Pela dificuldade que senti para me definir.
Quem
sou eu? -Perguntei-me.
Grande
parte da nossa vida andamos à procura de nós próprios. É uma procura
inconsciente. Procuramo-nos nos outros, naquilo que gostamos, naquilo com que
nos identificamos, em como ocupamos o nosso tempo, na profissão que escolhemos
ter, etc. Mas quando nos fazemos esta pergunta, dificilmente temos uma resposta
imediata.
Vem-nos
à mente todas as coisas que os outros dizem de nós. És bonita. És criativa. És
interessante. És preguiçosa. És irresponsável. És perfeccionista. És vaidosa. És
generosa. És muito fechada. És divertida. És meiga. És crítica. És ingénua. És
demasiado responsável. És fria. És boa demais… Mil e uma coisas que se
contradizem umas às outras. Quem somos, então? Será que somos a reunião de tudo
o que os outros consideram que somos? Uns vêem a parte de nós que é generosa e
outros vêem a parte de nós que não é tão generosa. E por aí em diante. Então,
somos um pouco de tudo.
Quem
somos nós afinal?
Será
que quem nós somos se reduz à visão que os outros têm de nós? Ou será que a
visão que os outros têm de nós é que é reduzida? Será que conseguimos nos
mostrar completamente aos outros? Será que eles conseguem nos enxergar em toda
a nossa dimensão? Ou será que isso depende de cada um e de como cada um olha o
mundo à sua volta?
Se
nós estivermos com um amigo que não gosta de música clássica e nós gostamos,
isto passa a ser para ele, algo que nos identifica, e nos define no universo
dele. Mas se nós estivermos com um amigo que gosta também de música clássica,
mas não gosta de rock – e nós gostamos – no universo dele, ele identifica-nos
como a amiga ou o amigo que gosta de rock. Cada um deles tem uma visão diferente de nós.
Cada um deles nos reduz àquilo que eles não gostam, àquilo que é diferente neles,
para nos identificarem na realidade deles. No entanto, nós não somos só aquilo,
nós somos muito mais do que a visão que eles têm de nós. E isto acontece com
tudo, com todas as nossas características que nos definem. Para uns, somos
vistos como demasiado responsáveis, para outros como irresponsáveis. Tudo
depende da realidade que cada um construiu, de acordo com os seus valores,
crenças, conceitos.
Então,
quem somos nós? Quem escolhemos ser? Será que depende assim tanto dos outros?
Ou será que depende de como nós nos sentimos connosco próprios? Quem somos nós
independentemente de como os outros nos vêem? Como nos vemos a nós próprios?
Para
sabermos quem somos realmente é necessário criarmos o nosso espaço. O nosso
mundo interior, aonde podemos estar connosco próprios, ouvir os nossos
pensamentos, os nossos sentimentos, as nossas sensações. É neste mundo que
vamos perceber o que é nosso e o que é dos outros. E é aí que aprendemos a
rejeitar o que não é nosso. Perceber que aquela é uma visão do outro de nós,
devido às experiências de vida, conceitos, valores, crenças, que o outro tem da
vida, mas não é quem nós somos. E é assim que nós nos vamos conhecendo.
Absorvendo e rejeitando. Isto sou eu. Isto não sou eu. É assim que escolhemos
amizades, definimos os nossos gostos, como escolhemos ocupar o nosso tempo.
Isto
só pode ser bem feito quando temos este espaço interno. Quando disponibilizamos
uma parte do nosso tempo para estar neste espaço. É assim que criamos a nossa
identidade.
Quando
percebemos quem somos nas diferentes situações da nossa vida, independentemente
do que os outros pensam de nós, só aí podemos dizer que nos conhecemos. Só aí
podemos dizer quem realmente somos.
E
quando esta identidade estiver criada, formada, e percebermos quem queremos
ser, as escolhas que fazemos se baseia nesta nova visão de nós próprios. Vamos
escolher estar rodeados de pessoas que vêem o melhor de nós, pois só com essas
é que vamos poder ser verdadeiros connosco próprios. Elas ajudam-nos a
expressar o que é de melhor em nós. Não é à toa que existe aquela frase “Diz-me
com quem andas e dir-te-ei quem és.” É o ambiente em que escolhemos estar que
dita quem queremos ser. Se escolhermos estar rodeados de pessoas que não gostam
de nós, é porque nós também escolhemos não gostar de nós, e consequentemente,
vamos expressar as nossas piores características.
O
nosso sol interior só pode brilhar quando se rodeia daqueles que apreciam o seu
brilho. É aqui que nos expandimos e que expressamos as nossas melhores
qualidades. É por isto que é tão importante definirmos quem queremos ser.
Porque todas as nossas boas escolhas vão se basear nesta visão de nós próprios.
Sandra Duarte
Who am I?
“Remember who you are!” – A message I
found one day, while walking through one of the streets of Lisbon . Caught my
attention for its depth. For the difficulty I felt in responding with clarity.
For the difficulty I felt in defining myself.
Who am I? – I asked myself.
A big part of our life we are seeking
ourselves. It’s an unconscious search. We seek ourselves in others, in what we
like, in what we identify ourselves with, in how we occupy our time, in the
profession we choose to have, etc. But when we ask ourselves this question, we hardly
have an immediate answer.
All things others say about us come to
mind. You’re beautiful. You’re creative. You’re
interesting. You’re lazy. You’re irresponsible. You’re perfectionist. You’re vain.
You’re generous. You’re very closed. You’re funny. You’re sweet. You’re
judgmental. You’re naive. You’re too responsible. You’re cold. You’re too nice…
A thousand and one things that contradict each other. Who are we then? Are we the
reunion of all others think we are? Some see the part of us that is generous
and others see the part of us that is not so generous. And so on. Then we are a
little bit of everything.
Who are we after all?
Is who we are reduced to the vision
others have of us? Or is the vision others have of us, reduced? Can we show
ourselves completely to others? Can others see us in our entire dimension? Or
does this depend on each one and how each one perceives the world around?
If we’re with a friend who doesn’t like
classical music and we do, this is now for him, something that identifies and
defines us in his universe. But if we’re with a friend that also likes
classical music but doesn’t like rock – and we do – in his universe, he
identifies us as we’re the friend who likes rock. Each one of them has a
different vision of us. Each one of them reduces us to what they don’t like, to
what is different from them, to identify ourselves in their reality. However,
we’re not only that, we’re much more than the vision they have of us. And this
happens with all, all the features that define us. For some, we’re seen as to
much responsible, for others as irresponsible. All depends on the reality each
one built, according to their values, beliefs, concepts.
Who are we then? Who do we choose to be? Does
it depend that much of others? Or does it depend of how we feel about ourselves?
Who are we regardless of how others see us? How do we see ourselves?
To know who we really are, it’s necessary
to create our own space. Our inner world, where we can be with ourselves,
listen to our thoughts, our feelings, our sensations. It’s in this world we’re
going to perceive what is ours and what is others. And that’s where we learn to
reject what isn’t ours. Realize that’s another’s vision of us, due to life
experiences, concepts, values, beliefs the other has of life, but it’s not who
we are. And that’s how we get to know ourselves. Absorbing and rejecting. This is me. This isn’t me. And that’s how we
choose friendships, define our tastes, how we choose to occupy our time.
This can only be well done when we have
this internal space. When we provide a portion of our time to be in this space.
That’s how we create our identity.
When we realize who we are in different
life situations, regardless of what others think of us, only then can we say
that we know ourselves. Only then can we say who we really are.
And when this identity is created,
formed, and we realize who we want to be, the choices we make are based in this
new vision of ourselves. We will choose to be surrounded by people who see the
best of us, because only with these we’ll be true to ourselves. They help us express what is best in us. No wonder
there’s that phrase “Tell me who you’re friends are and I’ll tell who you are.”
It’s the environment in which we choose to be that dictates who we want to be.
If we choose to be surrounded by people who don’t like us, it’s because we are
choosing not to like ourselves, and therefore, we will express our worst
features.
Our inner sun can only shine when it
surrounds by those who appreciate its glow. That’s where we expand ourselves
and express our best qualities. That’s why it’s so important to define who we
want to be. Because all our good choices will be based on that vision of
ourselves.
Sandra Duarte
Sem comentários:
Enviar um comentário