quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Emoções: Amigas ou Inimigas?





O que são as emoções? Qual o seu objectivo? Como conviver com elas de forma saudável?

As emoções são como um termómetro. Dão-nos informação do estado em que nós estamos, se estamos centrados, equilibrados ou não, se estamos a ver uma situação a partir de uma perspectiva positiva, que nos faz sentir empoderados e bem connosco próprios ou não. Mostra-nos onde está o nosso foco. Se estamos alinhados com o nosso coração ou não. Elas reflectem o nosso estado de alma. Ajudam-nos a ter consciência do quanto estamos perto ou não do nosso verdadeiro Eu.

Podemos ver uma relação entre o nosso estado emocional e o estado do tempo. Quando está sol, são dias positivos, que nos fazem querer sair de casa, conviver com os outros, partilhar, nos divertir. É exactamente o que acontece quando estamos num estado emocional mais positivo. Sentimo-nos alegres, confiantes, ligamo-nos aos outros, saimos da nossa concha.
Mas quando estão dias carregados com nuvens e chuvosos, são dias mais negativos, pesados, apetece-nos ficar em casa, recolhidos, sentimo-nos mais carentes emocionalmente. O mesmo acontece quando estamos mais negativos. É como se as nuvens emocionais nos desconectassem do nosso sol interno e perdessemos a nossa ligação com os outros, connosco próprios, porque nos distanciámos de nós próprios. A nossa confiança esmorece e é necessário o recolhimento para voltarmos mais a nós mesmos, para nos alimentarmos emocionalmente. Voltar à nossa casa interna, aconchegarmo-nos ao nosso Eu, para ouvir o nosso coração.

Cada emoção informa-nos onde está a nossa atenção, para onde vai o nosso foco. Se estamos alegres, estamos a apreciar o momento, o agora, satisfeitos com a vida que temos. Se estivermos nostálgicos, estamos focados no passado e a dar atenção ao que já foi, ao que já não está presente. Podemos sentir isso como uma perda de um momento importante. A paixão é quando nos sentimos motivados, quando algo nos desperta, nos dá vida, nos excita, nos dá foco e direcção. A depressão é quando há perda de paixão, entusiasmo, foco e direcção. Surge num acumular de emoções que não foram libertadas e conscientizadas. A pessoa não tem objectivos de vida, foco e fica paralizada, sente-se à deriva. A ansiedade vem do desejar que o sonho se materialize rapidamente, do não aceitar a lentidão e o processo natural das coisas, do querer viver o amanhã no momento presente. O medo vem do sentirmos insegurança e falta de confiança em certas situações ou em nós próprios, de não termos a capacidade de ultrapassar certas situações. Surge quando nos sentimos ameaçados e em perigo, podendo este ser real ou não. Estamos a pisar em terreno desconhecido, sem conseguir definir a situação. Surge da necessidade de seguir com cautela. A inveja é quando estamos focados no outro e não em nós próprios, quando nos comparamos com outros, os sobrevalorizando, não reconhecendo o nosso valor. A mágoa é quando acumulamos dor e sofrimento em relação a alguém ou a uma situação. Surge quando não conseguimos ver o amor presente numa determinada situação ou comportamento de alguém para connosco, quando uma pessoa não se comportou de acordo com as nossas expectativas dela. Gratidão é quando apreciamos e valorizamos aquilo que recebemos, reconhecemos a sua importância.

A seguir está um exemplo de como a vida actua sobre nós através das nossas emoções quando quer que mudemos de direcção ou de atitude.

A raiva é a primeira reacção instintiva que temos quando surge um impedimento na direcção em que vamos e é despoletada porque algo não está a acontecer como queremos. Aquilo que está a acontecer não está de acordo com a nossa vontade e temos dificuldade em aceitar isso. Surge do querermos controlar as situações e de acharmos que a nossa vontade é que está certa. É quando acontece algo que nos trava e a energia que usamos para agir numa direcção fica bloqueada e precisa ser libertada para se dar a paragem. A frustração acontece no seguimento da raiva, com o objectivo de fazer esta perder a sua força. Surge de tentativas falhadas quando não aceitamos a travagem, quando há resistência, e tentamos repetidamente ir na mesma direcção. A tristeza surge antes da aceitação. Indica que a situação está fora do nosso controlo. Que não conseguimos ter controlo sobre o rumo dos eventos. Sente-se perda, derrota em relação a uma situação. Não encontramos uma solução. Surge quando o objectivo a que nos propomos não se realiza e deixamos de criar resistência para com a mudança. A aceitação é quando fazemos paz interior com uma determinada situação e aceitamos mudar de rumo, mudar de comportamento. Rendemo-nos a uma vontade maior.

Todas estas emoções que surgem são baseadas em pensamentos, crenças, etc, que temos da vida. Quando negativas, elas mostram-nos que uma perspectiva não está alinhada connosco, com o nosso Eu, com o nosso coração. E isso impede-nos de fluir com a vida. Faz-nos criar resistências.

A carência emocional existe quando estamos desequilibrados emocionalmente, quando há falta de emoções positivas que nos fazem sentir bem connosco. Quando isto acontece temos tendência para ir buscar nos outros este alimento emocional e exigimos mais do que aquilo que eles podem nos dar. Cria dependência dos outros, como se fossemos uma criança que ainda depende da mãe, não sabemos nos alimentar sozinhos.

Ganhar maturidade emocional é aprender a nos alimentarmos emocionalmente sozinhos, responsabilizando-nos pelas nossas necessidades emocionais. Para isso é preciso percebermos que emoção nos faz falta naquele momento e encontrar uma forma de a sentirmos. Dependendo do tipo de emoção que nos está a fazer falta, da qual carecemos, iremos descobrir uma forma de nos preenchermos com essa emoção, dedicando-nos a algo, seja trabalho, actividade, etc, que nos traga isso. E para cada um de nós essa emoção é alimentada de forma diferente. Se nos sentirmos deprimidos, precisamos de descobrir a nossa paixão na vida, olhando para os temas que nos apaixonam, que nos despertam interesse. Para alguns pode ser conviver com animais, adoptando um ou fazendo voluntariado em associações que ajudam animais. Para outros pode ser fazerem uma actividade física, estar na natureza, ou ainda, criar o seu próprio negócio.
Se nos sentimos tristes, precisamos de descobrir actividades que nos deixem alegres, que nos façam rir, tais como ver uma comédia, brincar com crianças, fazer uma “silly dance” (dançar de forma pateta), fazer algo que desperte o nosso lado mais espontâneo, brincalhão e infantil.

Saber gerir emoções é uma aprendizagem. O segredo não é evitá-las quando são emoções negativas pois é necessário vivenciá-las também. O segredo é enfrentá-las e actuar sobre elas logo que elas surgem, ganhar consciência do que elas estão a querer nos dizer, perceber que pensamentos as alimentam e transformá-los.

As emoções podem ser as nossas maiores inimigas quando se excedem pois assim perdemos qualquer controlo sobre elas e estas passam a dominar a nossa vida, escravizando-nos. Dessa forma, perdemos o nosso poder pessoal. O importante é ir à origem e perceber os pensamentos que desencadeiam essas emoções. 
Mas também podem ser as nossas maiores amigas porque vão nos mostrando a cada momento se estamos a ser verdadeiros connosco próprios, se estamos a ter pensamentos positivos ou não, que nos fortalecem ou enfraquecem, se estamos a ter poder pessoal ou não.

Ao ganhar responsabilidade sobre as nossas emoções e saber nos alimentar a nível emocional correctamente ganhamos maior qualidade de vida, um maior bem-estar connosco próprios e desenvolvemos uma melhor relação com os outros, mais equilibrada.


Sandra Duarte





Emotions: Friends or Enemies?


What are emotions? What’s their purpose? How to live with them in a healthy way?

Emotions are like a thermometer. They give us information of what state we're in, if we’re centered, balanced or not, if we’re seeing a situation from a positive perspective, that makes us feel empowered and good about ourselves or not. They show us where is our focus. If we’re aligned with our heart or not. They reflect our state of spirit. They help us to gain conciousness of how close we are or not to our true Self.

We can see a connection between our emotional state and the state of the weather. When it’s sunny, days are positive, that make us want to leave the house, socialize with others, share, have fun. That’s exactly what happens when we’re in a more positive emotional state. We feel happy, confident, we connect ourselves to others, we step out of our shell.
But when days are loaded with clouds and rainy, days are more negative, heavy, we feel like staying home, withdrawn, we feel more emotionally needy. The same happens when we’re more negative. It’s as if emotional clouds disconnected us from our inner sun and we lost touch with others, with ourselves, because we have distanced from ourselves. Our confidence fades and we need to withdrawn to come back to ourselves, to nourish ourselves emotionally. Coming back to our internal home, snuggling ourselves against our Self, to listen to our heart.

Each emotion informs us where is our attention, where does our focus go. If we’re happy, we are enjoying the moment, the now, satisfied with the life we have. If we’re nostalgic, we’re focused on the past and paying attention to what’s gone, to what’s no longer present. We may feel that as a loss of an important moment. Passion is when we feel motivated, when something awakens us, gives us life, excites us, gives us focus and direction. Depression is when there’s loss of passion, enthusiasm, focus and direction. It arises when there’s a buildup of emotions that were not released and made aware. The person doesn’t have goals in life and stays paralyzed, it feels drifting. Anxiety comes from wishing for the dream to come true as soon as possible, from not accepting slowness and the natural process of things, from the desire to live the tomorrow in the present moment. Fear comes from feeling insecure and lack of confidence in certain situations or in ourselves, that we don’t have the ability to overcome certain situations. It arises when we’re feeling threatened and in danger, which may be real or not. We’re stepping into unfamiliar ground, unable to define the situation. It comes from the need of moving with caution. Envy is when we’re focused in the other and not in ourselves, when we compare ourselves to others overestimating them, not recognizing our value. Hurt is when we accumulate pain and grief related to someone or to a situation. It occurs when we can’t see the love present in a given situation or in someone’s behaviour towards us, when a person didn’t behave according to our expectations of it. Gratitude is when we appreciate and value what we receive, we recognize its importance.

Next there’s an example of how life acts upon us through our emotions whenever it wants us to change direction or attitude.

Anger is the first instinctive reaction we have when an obstacle arises in the direction we’re headed and it’s triggered because something isn’t happening the way we want. What’s happening is not according to our will and we have difficulty in accepting that. It comes from the need to control situations and from thinking that our will is what’s right. It’s when something happens that halts us and the energy we use to act in one direction becomes blocked and needs to be released so the stopping may occur. Frustration happens following anger, in order to make this one lose its strength. It arises from failed attempts when we don’t accept the halt, when there’s resistance, and we repeatedly try to move in the same direction. Sadness comes before acceptance. It indicates that the situation is out of our control. That we can’t have control over the course of events. We feel loss, defeat regarding a situation. We can’t find a solution. It occurs when the goal we set ourselves isn’t accomplished and we stop creating resistance towards change. Acceptance is when we make inner peace with a certain situation and we accept to change course, change behaviour. We surrender ourselves to a higher will.

All these emotions that arise are based in thoughts, beliefs, etc, we have of life. When negative, they show us that a perspective isn’t aligned with us, with our Self, with our heart. And that keeps us from flowing with life. Makes us create resistances.

Emotional neediness exists when we’re emotionally unbalanced, when there’s lack of positive emotions that make us feel good about ourselves. When this happens we tend to seek on others this emotional nourishment and we demand more than what they can give us. It creates dependency on others as if we were a child that is still depending on its mother, we don’t know how to nourish ourselves.

To gain emotional maturity is to learn to nourish ourselves emotionally on our own, taking responsibility for our emotional needs. For that we need to realize what emotion is lacking at that moment and find a way to feel it. Depending on the type of emotion that is lacking us, that we’re in need, we will figure out a way of filling ourselves with that emotion, dedicating ourselves to something, be it work, activity, etc, which brings us that. And for each one of us that emotion is nourished differently. If we’re feeling depressed, we need to discover our passion in life, looking at the issues we’re passionate about, that awakens our interest. For some it may be to get along with animals, adopting one or doing volunteer work in associations that help animals. For others it may be doing a physical activity, being in nature, or even creating their own business.
If we’re feeling sad, we need to discover activities that make us happy, that make us laugh, such as watching a comedy, playing with children, making a “silly dance” (dancing in a goofy way), making something that awakens our spontaneous, playful and childish side.

Knowing how to manage emotions is a learning process. The secret is not avoiding them when they’re negative emotions for we need to experience them too. The secret is to face them and act on them as soon as they arise, gaining consciousness of what they’re trying to tell us, realizing what thoughts nourish them and shift these.

Emotions can be our biggest enemies when they exceed because then we lose any control over them and these end up dominating our life, enslaving us. That way, we lose our personal power. The important thing is to go to the source and realize the thoughts that trigger those emotions. 
But they can also be our greatest friends because they will show us at each moment if we’re being true to ourselves, centered, if we’re having positive thoughts or not, that strengthen us or weaken us, if we’re having personal power or not.

By gaining responsibility over our emotions and knowing to nourish ourselves emotionally properly we gain a better quality of life, a greater well-being with ourselves and we develop a better relationship with others, a more balanced one.


Sandra Duarte




quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Construindo Pontes em vez de Muros





Cada um de nós é um universo. Um mundo único, constituído por pensamentos, sentimentos, emoções, crenças, valores, imagens e sons que criamos e que guardamos, etc. E nenhum universo é igual. Cada um funciona ao seu próprio ritmo, com a sua própria ordem. No entanto, ligamo-nos uns aos outros como se partilhássemos o mesmo palco. Cada um de nós aceita, compromete-se com o outro a ser a personagem da história do outro, quando ambos têm algo a aprender um com o outro. É como se a um nível inconsciente, houvesse encontros agendados. A tal hora, em tal lugar, aprender a lição tal.

Trocamos informações entre nós a um nível inconsciente e consciente. Ajudamo-nos mutuamente. Quando um aprende e cresce, o outro automaticamente o faz também. E quando as lições estiverem aprendidas, a energia entre os dois universos harmonizada, afastamo-nos, seguindo um novo rumo. É assim que pessoas entram e saem da nossa vida. Quando entram, elas trazem a semente do que precisamos evoluir em nós naquele preciso momento. E quando saem, a nossa perspectiva mudou, a nossa visão se ampliou, o nosso foco mudou de direcção, rumo a outro “encontro”.

Mas há aqueles que permanecem na nossa vida, ao longo dela. É o caso da familia. Não só familia de sangue mas também família da alma. Aqueles com quem viemos ter relacionamentos mais próximos, mais íntimos. Com a família estabelecemos o compromisso de permanecermos nas vidas uns dos outros por mais tempo. O salto evolutivo é maior.

Mas nem sempre a experiência é fácil. Quando dois universos se juntam, no início pode haver alguma desarmonia. Essas são as pessoas que nos trazem a aprendizagem maior. Quando há desconforto, incómodo, emoções negativas. Quando um universo afecta o outro desencadeando emoções negativas. Pois esse outro universo reflecte o que em nós ainda não está em harmonia, em paz. É como se fosse uma campainha, nos dando alertas. “Olha para aqui! Olha para ali!”

Quando nos fechamos no nosso próprio universo, nos isolando excessivamente dos outros, criamos muros de protecção, que, aparentemente parecem nos dar segurança mas, na verdade, eles impedem-nos de estabelecer ligações com os outros. Impedem-nos de estarmos abertos à aprendizagem com o outro, de haver troca com o outro. Criam bloqueios em nós próprios. Isolam-nos no nosso próprio mundo. Não há renovação aqui, não há aprendizagem, possibilidade de crescimento, expansão e evolução. Há, sim, estagnação.

Mas quando se constroem pontes entre dois universos, cria-se a possibilidade de renovação, de crescimento. Para que isto aconteça é preciso que os muros que parecem nos proteger, caiam. É necessário haver um desejo de ir mais além do nosso próprio mundo. Ir à descoberta, à conquista de novos mundos. Estar munido de um sentimento de curiosidade, de desejo de expansão. É assim que conhecemos novas pessoas na nossa vida. Quando há um desejo em nós de expansão do nosso ambiente, do nosso círculo social, de conhecer pessoas novas. É preciso estarmos receptivos a tal. Sair do ambiente que nos é familiar e conhecido, seguro, e rumar ao desconhecido, arriscar, aventurarmo-nos. Perceber que o desconhecido se torna conhecido quando nos abrimos a isso. Torna-se familiar.

A comunicação é uma das formas mais importantes para construir pontes entre pessoas. É através dela que conhecemos o outro e que este se torna familiar. Mas infelizmente, nem sempre sabemos comunicar de forma adequada com o outro. Aqui podem existir muitos conflitos. A maioria de nós comunica a um nível superficial. Trocando informação do dia-a-dia, conversas sobre o tempo, as notícias, a vida alheia, etc. Mas a verdadeira comunicação só acontece quando cada um de nós estiver preparado para comunicar a partir do coração. Quando é uma comunicação mais profunda, ao nível da alma. Nem todos estão receptivos a isso, pois é necessário que caiam os muros que usamos para nos proteger. Só quando percebermos que o outro é um ser como nós, com os mesmos medos e inseguranças, os mesmos muros, é que podemos permitir que essa comunicação se estabeleça. Quando isso acontece, cria-se um elo muito forte entre duas pessoas. Quando a comunicação é verdadeira, profunda, é possível crescer com o outro de forma mais consciente. Perceber o que o outro sente, como é a sua visão da vida. Cria-se uma ligação de grande confiança. Conectamo-nos verdadeiramente com o outro, ao nível da alma.
É desta forma que criamos laços fortes com os outros, boas amizades, boas parcerias. Quando permitimos que o outro nos conheça como realmente somos, sem muros. Quando abrimos a porta para o outro entrar no nosso universo.

Mas para estabelecer uma boa ligação com o outro é preciso que percebamos que o outro pode ter uma visão de vida diferente da nossa. É necessário que desenvolvamos a capacidade de aceitação dessa diferença e de nos colocarmos no seu lugar. Perceber o mundo visto pelos seus olhos, sentir o que ele sente. Compreender a partir de onde ele vem, quais as histórias de vida por que passou que poderão desencadear certas reacções que não compreendemos. Pois estas reacções nascem de inseguranças e medos devido a experiências menos boas. Só assim, podemos não reagir ao mesmo nível. Ao estabelecermos uma comunicação mais profunda e forte, ao partilhar aquilo que em nós é mais profundo.

O silêncio é um componente essencial da própria comunicação. Poderiamos pensar que no silêncio a comunicação não acontece, mas na verdade, é quando se dá a comunicação mais profunda, um ouve os sentimentos do outro. É comunicação ao mais alto nível, que não pode ser reduzida a palavras. É comunicar pelo coração. É fundamental saber estar em silêncio com outra pessoa. O que acontece é que na maioria das vezes, estamos tão habituados ao barulho e informação vindos de todos os lados, que quando há silêncio, há desconforto. Só que esta é a única forma de comunicação que existe que é verdadeira e clara. Enquanto que as palavras podem ser usadas para disfarçar e camuflar emoções e sentimentos, na comunicação pelo coração não temos como esconder o que sentimos. É claro como água.

E mais importante que comunicar com os outros é comunicar connosco mesmos. Perceber como é a nossa comunicação interna, as vozes interiores que ouvimos. Se são positivas ou negativas. Se nos dão força ou se nos enfraquecem. Pois a comunicação com os outros será o reflexo desta. Perceber que palavras usamos frequentemente e de forma inconsciente no nosso vocabulário. Se estas criam muros ou pontes, se desencadeiam inseguranças e medos, se nos dão força e nos enchem de amor ou se nos limitam, aprisionam. Porque é a partir desta comunicação interna que nos vamos ligar ou não aos outros. Se de forma mais agradável ou não. Se de forma mais espontânea ou não.

Quando aceitarmos quebrar os nossos muros de protecção e decidirmos confiar que os outros são semelhantes a nós, com os mesmos problemas, inseguranças e medos, abrimos uma porta para criarmos uma nova ligação com os outros, construimos pontes. Perceberemos que não estamos sozinhos e isolados no nosso mundo. É quando os nossos relacionamentos se tornam mais fortes e profundos pois a partilha é maior. Sentimo-nos mais preenchidos de amor porque nos entregamos mais aos outros e os apreciamos mais. A vida renova-se em nós. Sentimo-nos a pertencer a uma enorme família.


Sandra Duarte




Building Bridges instead of Walls


Each one of us is a universe. A unique world, composed of thoughts, feelings, emotions, beliefs, values, images and sounds we create and store, etc. And no universe is equal. Each one functions to its own rhythm, with its own order. However, we connect to each other as if we shared the same stage. Each one of us accepts, agrees with the other to be a character in the other’s story, when both have something to learn from each other. It’s as if at an unconscious level, there were scheduled meetings. At such time, at such place, learning such lesson.

We exchange information between us at an unconscious and conscious level. We assist each other mutually. When one learns and grows, the other automatically does too. And when the lessons are learned, the energy between the two universes harmonized, we drift away from each other, following a new direction. That’s how people come in and leave our lives. When they come in, they bring the seed of what we need to evolve in us in that precise moment. And when they leave, our perspective has changed, our vision has expanded, our focus has changed direction, heading to another “meeting”.

But there are those who remain in our life, throughout it. This is the case of family. Not just blood family but also soul family. Those we came to have closer relationships, more intimate ones. With family we establish a commitment of remaining in each other’s lives for longer time. The evolutionary leap is greater.

But the experience isn’t always easy. When two universes come together, in the beginning there may be some disharmony. Those are the people who bring us the greatest learning. When there’s discomfort, bother, negative emotions. When a universe affects the other triggering negative emotions. Because this other universe reflects what in us isn’t yet in harmony, in peace. It’s like a bell, giving us alerts. “Look at this! Look at that!”

When we close ourselves in our own universe, overly isolating ourselves from others, we create walls of protection, which apparently seem to give us security but, actually, they prevent us from establishing connections with others. They prevent us from being open to learning from each other, from exchanging with each other. They create blockages in ourselves. They isolate us in our own world. There’s no renewal here, no learning, growth possibility, expansion and evolution. There is indeed stagnation.

But when bridges are built between two universes, it creates the possibility of renewal, of growth. For this to happen it’s necessary for the walls, which seem to protect us, to fall. It’s necessary to have the desire to go beyond our own world. Discovering, conquering new worlds. Be provided with a feeling of curiosity, of desire for expansion. That’s how we meet new people in our lives. When there’s a desire in us to expand our environment, our social circle, to meet new people. We need to be receptive to that. To leave the enviroment that is familiar and known to us, safe, and head into the unknown, risking, adventuring ourselves. Realizing that the unknown becomes known when we open ourselves to that. It becomes familiar.

Communication is one of the most important ways to build bridges between people. It’s through it we know the other and it becomes familiar. But unfortunately, we don’t always know how to communicate properly with each other. Here there may be many conflicts. Most of us communicate on a superficial level. Exchanging day-to-day information, conversations about the weather, news, lives of others, etc. But the real communication only happens when each one of us is ready to communicate from the heart. When it’s a deeper communication, at the soul level. Not all are receptive to it because it’s necessary for the walls we use to protect ourselves to fall. Only when we realize that the other is a being like us, with the same fears and insecurities, the same walls, can we allow for that communication to take place. When that happens, it creates a very strong bond between two people. When communication is true, deep, it’s possible to grow with another in a more conscious way. Understand what the other feels, how’s the other’s life vision. It creates a connection of great trust. We truly connect with the other at the soul level.
This is how we create strong bonds with others, good friendships, good partnerships. When we allow for the other to know us as we really are, with no walls. When we open the door for the other to come into our universe.

But to establish a good connection with another it’s necessary for us to realize that the other may have a vision of life different from ours. We need do develop the ability of accepting that difference and putting ourselves in the other’s place. Understand the world as seen through the other’s eyes, feel what the other feels. Understand where the other is coming from, what are the stories of life the other’s been through that may trigger certain reactions that we don’t understand. Because these reactions are born from insecurities and fears due to less good experiences. Only then can we not react at the same level. When we establish a deeper and stronger connection, when we share what is deeper in us.

Silence is an essential component of communication itself. We might think that in silence communication doesn’t happen, but in fact, that’s when a deeper communication occurs, one listens to the other’s feelings. It’s communication at its highest level, that cannot be reduced to words. It’s communicating through the heart. It’s essential knowing to be in silence with another person. What happens is that most of the time, we’re so used to the noise and information coming from everywhere, that when there’s silence, there’s discomfort. Except that this is the only form of communication that exists that is true and clear. While words can be used to disguise and camouflage emotions and feelings, in communication through the heart we cannot hide what we feel. It’s clear as water.

And more important than communicating with others is to communicate with ourselves. Understand how is our internal communication, the inner voices we hear. If they’re positive or negative. If they give us strength or weaken us. Because communication with others will be the reflection of this. Realize what words we often use in an unconscious way in our vocabulary. If these create walls or bridges, if they trigger insecurities and fears, or if they give us strength and fill us with love or limit us, imprision us. Because it’s from this internal communication that we connect or not with others. If in a more pleasant way or not. If in a more spontaneous way or not.

When we accept to break our walls of protection and decide to trust that others are similar to us, with the same problems, insecurities and fears, we open a door to create a new connection with others, we build bridges. We’ll realize we are not alone and isolated in our world. That’s when our relationships become stronger and deeper because the sharing is greater. We feel more filled with love because we give ourselves more to others and appreciate them more. Life renews in us. We feel belonging to a huge family.


Sandra Duarte



quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O Afastar das Nuvens



Um dos nossos maiores desafios na vida envolve o entender a desilusão. Porque nos desiludimos? O que aprendemos com isto? Como passar por esse processo sem tanto sofrimento?

À medida que crescemos, vamos arquivando nas nossas memórias, interpretações que fazemos da realidade, dos acontecimentos na nossa vida, vamos criando e absorvendo crenças, ideias do mundo à nossa volta. Trata-se de um arquivo de segurança, para não voltar a repetir o mesmo caminho quando a experiência não foi agradável, e para repetir as experiências que nos fizeram sentir bem. Em muitos destes arquivos, guardamos conceitos, noções, crenças da realidade que adquirimos com as nossas vivências e com o que absorvemos dos outros à nossa volta. Só que, por vezes, alguns desses conceitos, crenças, colidem com a nossa verdadeira natureza, nos limitam. Impedem-nos de vibrar na nossa energia mais pura. São como nuvens que absorvemos e que nos cobrem, escondendo o nosso verdadeiro Eu. Criam ilusões e impedem-nos de ver com clareza os outros e as situações.

Imaginemos que adquirimos uma crença de que um bom amigo é aquele que está sempre presente na nossa vida, qualquer que seja a situação. Quando isto não acontece, colocamos esta amizade em risco. Duvidamos dela. Dá-se o processo da desilusão. A pessoa não corresponde ao que esperávamos dela. À nossa expectativa dela, à visão que tinhamos dela.

Porque atraimos desilusões? Elas só acontecem quando algo em nós, uma crença, um conceito está elevado demais, quando existe uma expectativa demasiado elevada de algo ou alguém, quando estamos iludidos com algo ou alguém. Quando não os vemos com clareza, tal como eles realmente são. Nós atraimos as desilusões através de pessoas, situações, que nos vêm ajudar a desfazer o que está iludido em nós. É um processo doloroso mas que a um nível mais elevado, tem um objectivo positivo. O de nos fazer abrir os olhos, afastar as nuvens, as ideias enganosas que absorvemos com as nossas vivências.

Será que no caso acima, um amigo que não esteja sempre presente deixa de ser amigo? Certamente que não. Cada um de nós tem as suas vidas, os seus compromissos. Pode acontecer algo inesperado na vida deste amigo que o impossibilita de estar presente a certa altura, algum tipo de impedimento. Mas isto não o torna menos amigo.
É nestas alturas que precisamos redefinir os nossos conceitos, crenças, valores, de forma a dar liberdade aos outros e a nós próprios. A verdade é que algum impedimento também pode acontecer da nossa parte e nós não podermos estar presentes a certa altura.

Quando esperamos demasiado dos outros, também exigimos demasiado de nós próprios, inclusive, nos colocamos sob pressão para atingirmos esse ideal que criámos. Quando as nossas expectativas diminuem em relação ao outro, também deixamos de exigir tanto de nós próprios, dando-nos a ambos mais liberdade.

Por vezes, pode acontecer nós termos uma visão de uma pessoa, a qual não corresponde ao que ela é realmente. É como se a vissemos por entre nuvens. E estas nuvens são ideias, crenças que temos em relação a certas pessoas, de acordo com a sua aparência, personalidade, raça, etc. Isto é projectar no outro uma ideia pré-concebida que temos dele. E só com o tempo, com a convivência é que vamos conhecendo a pessoa, e as nuvens vão-se afastando, descobrindo a nossa visão, deixando-nos ver quem a pessoa realmente é. Percebemos que algo não se encaixa na nossa visão inicial. De alguma forma, a pessoa surge na nossa vida para desprogramar a nossa forma de pensar, as ideias que temos pré-concebidas, as crenças que temos em relação a um certo tipo de pessoas.

Sempre que houver ideias pré-concebidas, preconceitos, crenças desalinhadas com o coração, etc, nós atraimos pessoas, situações, para nos desprogramar em relação a isso. Trata-se assim de um processo de desprogramação. É o afastar das nuvens que nos tapavam a vista, nos cegavam. E este descobrir das nuvens pode acontecer de duas formas: pela negativa, pela desilusão, pois a primeira visão da pessoa ou situação era de encantamento, e com o afastar das nuvens dá-se o desencantamento; e pela positiva, pela admiração, a primeira visão da pessoa ou situação era de falta de interesse, e com o afastar das nuvens dá-se a surpresa. Em ambos os casos é um acordar.

Nas relações de vários tipos, familiares, amorosas, de amizade, etc, temos tendência para projectar no outro uma ideia pré-concebida, um ideal. Isto significa que dentro de nós temos um ideal do outro, de acordo com o seu papel, se é pai, mãe, amante, amigo, filho, professor etc. Se é pai, deve ser proceder assim, se for amante, deve proceder assado. E assim por diante. E quando a pessoa não corresponde ao nosso ideal, nós ficamos confusos, desiludidos. Algo não se encaixa. Inclusive, não conseguimos ver o amor na forma como essa pessoa nos dá. É preciso ver o outro tal como ele é, para além do seu papel. Um ser que pode ser complexo, com medos e inseguranças, que nem sempre age de acordo com o papel que esperamos, que idealizamos. E isto não quer dizer que o amor não esteja presente. Simplesmente nos é dado de forma diferente do esperado.

O afastar das nuvens que tapam a nossa visão é um caminho que nos faz voltar a nós próprios, à nossa verdadeira essência, que nos dá mais liberdade, alinha-nos com o coração. É um processo que, quando não é compreendido, pode-se passar por muito sofrimento.

O segredo para se ultrapassar isto é compreender o processo, perceber a ilusão que se tem e dissolvê-la. Só quando assumimos a responsabilidade sobre as nossas desilusões, e agradecemos interiormente ao outro por nos desiludir, nos desprogramar uma ilusão, ideia pré-concebida ou enganosa, crença, valor, etc, que temos, poderemos assumir o nosso poder pessoal e voltar a nós próprios. Ao nosso verdadeiro Eu.

E quando deixarmos de esperar, o inesperado acontece.

Sandra Duarte



Drifting Away the Clouds


One of our biggest challenges in life involves understanding disillusion. Why do we disillusion ourselves? What do we learn from this? How to go through this process without much suffering?

As we grow, we file in our memories, interpretations we make of reality, of events in our life, we create and absorb beliefs, ideas of the world around us. This is a security file, so we won’t repeat the same path when the experience wasn’t pleasant, and to repeat the experiences that made us feel good. In many of these files, we keep concepts, notions, beliefs about reality we acquired with our life experiences and with what we absorbed from others around us. Except that sometimes, some of these concepts, beliefs, collide with our true nature, limiting us. Preventing us from vibrating in our purest energy. They’re like clouds we absorb and cover us, hiding our true Self. They create illusions and prevent us from seeing clearly others and situations.

Suppose we acquire a belief that a good friend is the one who’s always present in our life, whatever the situation. When this doesn’t happen, we put this friendship in jeopardy. We doubt it. The process of disilluson takes place. The person doesn’t match to what we hoped of it. To our expectation of it, to the vision we had of it.

Why do we attract disillusions? They only happen when something in us, a belief, a concept, is to high, when there’s an expectation too high of something or someone, when we’re deluded with something or someone. When we don’t see them with clarity, as they really are. We attract disillusions through people, situations, that come to help us to undo what’s deluded in us. It’s a painful process but at a higher level, it has a positive purpose. Making us open our eyes, remove the clouds, the misleading ideas we absorb from life experiences.

Does in the case above, a friend who’s not always present stops being a friend? Certainly not. Each one of us has its own lives, its own commitments. Something unexpected can happen in this friend’s life that prevents him from being present at some point, some kind of hindrance. But this doesn’t make him less friend.
That’s when we need to redefine our concepts, beliefs, values, to give freedom to others and to ourselves. The truth is that some kind of hindrance may happen to us as well and we may not be able to be present at a certain point.

When we expect too much of others, we also expect too much of ourselves, even putting ourselves under pressure to achieve that ideal we created. When our expectations decrease regarding the other, we also stop demanding too much of ourselves, giving us both more freedom.

Sometimes, it can happen we have a vision of a person, which doesn’t match who it really is. It’s as if we saw it through clouds. And these clouds are ideas, beliefs we have regarding certain people, according to their appearance, personality, race, etc. This is projecting on the other a preconceived idea we have of it. And only over time, getting along with it is how we get to know the person, and the clouds will drift away, uncovering our vision, letting us see who the person really is. We realize that something doesn’t fit our initial vision. Somehow, the person comes into our life to deprogram our way of thinking, preconceived  ideas we have, beliefs we have regarding a certain kind of people.

Whenever there is preconceived ideas, prejudices, beliefs misaligned with the heart, etc, we attract people, situations, to deprogram us regarding that. This is therefore a process of deprogramming. It’s drifting away the clouds that covered our vision, blinded us. And this uncover of the clouds can happen in two ways: negatively, through disillusion, because the first vision of the person or situation was of enchantment, and when removing the clouds, disenchantment takes place; and positively, through admiration, the first vision of the person or situation was of lack of interest, and when removing the clouds, a surprise takes place. It’s an awake in both cases.

In relationships of several types, family, love affairs, friendships, etc, we have a tendency to project on the other a preconceived idea, an ideal. This means that within us we have an ideal of the other, according to its role, wether father, mother, lover, friend, son, teacher, etc. If it’s a father, he should be doing this, if it’s a lover, he or she should be doing that. And so on. And when the person doesn’t match our ideal, we get confused, disappointed. Something doesn’t fit. We can’t even see the love in the form that person gives us. We need to see the other as it is, beyond its role. A being that can be complex, with fears and insecurities, who doesn’t always act according to the role we expect, we idealize. And this doesn’t mean that love isn’t present. It’s simply given in a different way than expected.

Drifting away the clouds that cover our vision is a path that makes us return to ourselves, to our true essence, that gives us more freedom, aligns us with the heart. It’s a process that, when it’s not understood, we can go through a great suffering.

The secret to overcome this is to understand the process, realize the illusion one has and dissolve it. Only when we take responsibility for our disillusions, and be internally grateful to the other for disillusioning us, for deprogramming an illusion, preconceived  or misleading idea, belief, value, etc, we have, can we assume our personal power and return to ourselves. To our true Self.

And when we stop expecting, the unexpected happens.

Sandra Duarte


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A Dança Perfeita



Dançar com a vida é das maiores aprendizagens que poderemos fazer. Fluir com a vida. Senti-la e deixarmo-nos conduzir por ela. É como quando dançamos com alguém. É preciso deixar que o parceiro de dança nos conduza. Confiar nele. Confiar na vida. E estar em sintonia com ele. Estar em sintonia com a vida. Escutar com o coração a sua vontade. “Agora vais para a direita. Agora para a esquerda. Agora pára. Mais lento. Mais rápido. Dá uma volta. Muda de perspectiva. É preciso desistir. Esse não é o caminho certo. Confia em mim. Entrega-te. Agora deixa-te cair. Eu te apanho. Agora pára e escuta. Espera. Ainda não é altura. Podes seguir em frente. Chegou a hora."

Ouvir a vida e aceitar a sua vontade. É preciso criar uma ligação de confiança com ela. Ouvi-la através da nossa alma, do nosso coração. Seguir o seu ritmo mesmo quando não o compreendemos. Mesmo quando não visualizamos um caminho definido. Ela vai nos mostrando a cada momento o caminho, sem o revelar na totalidade. E, por vezes, nada faz sentido. De um dia para o outro tudo pode mudar, cair, e não entendemos isto. Mas tudo segue o plano que a vida tem para nós. Pessoas saem da nossa vida inesperadamente e pessoas entram da mesma forma. Cada acontecimento é no momento certo. Nada acontece por acaso pois a ordem divina é exacta. A vida tem o seu próprio relógio. O nosso relógio interno é que nem sempre está sincronizado com o da vida. E por isso, às vezes, é necessário esperar ou andar mais depressa, para acompanhá-la. Andar devagar nem sempre significa que estamos atrasados, pois por vezes, é andando mais devagar que ganhamos mais tempo, que vemos mais oportunidades. Quando vivemos de forma acelerada também não indica que estamos na hora certa, pois o que acontece é que deixamos de apreciar o que é importante na vida. Muita coisa é desperdiçada quando andamos acelerados. Porque o que preenche o coração é o apreciar cada momento. Fazendo pausas, silenciando-nos. Só assim podemos alimentar a nossa alma. Fazer sorrir o nosso coração.

Algo que sai da nossa vida cria espaço para que algo novo entre, com uma nova energia, regeneradora. Por vezes, parece que tudo cai, mas a verdade é que cai tudo no lugar certo, encaixando-se na posição certa. Se não passássemos por dificuldades numa certa área de vida, não saberiamos apreciar tanto tudo o que vem a seguir. A vida coloca a peça certa no lugar certo para desencadear o movimento que ela pretende que façamos, para adoptarmos outra posição na vida. A vida leva-nos aonde ela quer que estejamos. Como se nos empurrasse para o caminho que ela pretende que sigamos. O caminho do coração.

As dificuldades da nossa vida apontam-nos a direcção a seguir. Isso obriga-nos a crescer e a expandir a nossa consciência para ultrapassá-las. E é assim que evoluimos.
Se observarmos a nossa vida ao pormenor, conseguimos perceber um fio condutor, que nos leva de uma lição a outra. Nós só podemos apreciar certas pessoas na nossa vida depois de termos passado por outras, que nos magoaram ou desiludiram. São peças importantes que nos obrigam a mudar de rumo, a adoptar uma nova atitude. Desprogramam-nos de uma crença, valor, pensamento, hábito, rotina, etc, que não estava alinhada com o coração.

É necessário mudar a visão de vida de que quando seguimos um caminho, ele tem de estar definido, tem de ser uma linha recta. O que para muitos é andar sem rumo, vaguear, numa visão mais elevada, é ir caminhando, entregando-se à vida, fluindo, passando pelas experiências necessárias de forma a enriquecermo-nos a um outro nível. É dançar com a vida. O divertido de dançar é fluir com o outro, e passar pela diversidade de posições, passos. A vida torna-se mais interessante e divertida se tiver uma diversidade de cores, de cheiros, de sons, de formas, de experiências, de paisagens, etc.

E não saber o que vem a seguir pode ser uma das melhores sensações que podemos ter pois foca-nos no viver o momento presente, no agora, e faz-nos ficar abertos e receptivos ao novo. Sermos inesperadamente surpreendidos pelos vários presentes que a vida nos dá como quando eramos crianças, quando tudo nos maravilhava. Esta sensação de maravilha alimenta a nossa alma e faz-nos abrir os braços à vida. Abrir o nosso coração.

Quando conseguimos ver tudo isto de forma desapegada, começamos a compreender a sabedoria da vida e a confiar nela. Ela faz-nos passar por caminhos turbulentos e escuros, para chegarmos onde temos que estar, num caminho mais iluminado. Nós só reconhecemos as estrelas porque elas brilham apenas quando tudo está escuro.

Aprender a dançar com a vida e a deixarmo-nos levar por ela, sem pensar muito, sem criar resistência, sem querer controlar, é um verdadeiro milagre. Quando alcançamos esse estado, dá-se uma grande mudança interna. É um acto de rendição a uma vontade superior à nossa. A um Poder Maior. Que nos ama acima de tudo. E lembrarmo-nos em todos os momentos desse amor é a forma de nos mantermos ligados a ele. Uma Força que nos protege. Um Pai ou Mãe que nos dá a mão e nos conduz, numa dança perfeita, para o coração, para o caminho do Amor.

Sandra Duarte






The Perfect Dance


Dancing with life is the greatest learning we could do. Flowing with life. Sense it and let ourselves be led by it. It’s like when we dance with someone. We need to let the dance partner do the leading. Trust him. Trust in life. And being in tune with him. Being in tune with life. Listening with the heart to its will. “Now go to the right. Now left. Now stop. Slower. Faster. Do a turn. Change perspective. You need to quit. That’s not the right path. Trust me. Surrender yourself. Now let yourself fall. I’ll catch you. Now stop and listen. Wait. It’s not time yet. You can move forward. It’s time.”

Listening to life and accepting its will. It’s necessary to create a bond of trust with it. Listening to it through our soul, our heart. Following its rhythm even when we don’t understand it. Even when we can’t envision a precise path. It will show us the way at every moment, without revealing it completely. And sometimes, nothing makes sense. From one day to another, everything can change, fall, and we don’t understand this. But all follows the plan life has for us. People come out of our lives unexpectedly and people come in the same way. Each event is at the right moment. Nothing happens by chance for the divine order is exact. Life has its own clock. Our internal clock isn’t always synchronized with life’s clock. And so, sometimes, we need to wait or move faster, to keep up with it. Moving slowly doesn’t always mean that we’re late, for sometimes, it’s going slowly that we gain more time, that we see more opportunities. When we live in an accelerated way doesn’t mean that we’re in the right time, for what happens is that we fail to appreciate what is important in life. A lot is wasted when we are accelerated. Because what fills the heart is to appreciate every moment. Pausing, silencing ourselves. Only then can we nourish our soul. Making our heart smile.

Something that comes out of our life creates space for something new to enter, with a new energy, regenerating. Sometimes, it seems like everything falls, but the truth is that everything falls in place, fitting into the right position. If we didn’t pass through difficulties in a certain area of life, we wouldn’t know how to appreciate that much all that comes next. Life puts the right piece in the right place to trigger the movement it wants us to do, to adopt another position in life. Life takes us where it wants us to be. As if it pushed us to the path it wants us to follow. The path of the heart.

The difficultes in our life show us the direction to follow. That forces us to grow and expand our consciousness to overcome them. That’s how we evolve.
If we observe our life in detail, we can perceive a guiding line that takes us from one lesson to another. We can only appreciate certain people in our life after passing through others that hurt us and disappointed us. They’re important pieces that force us to change course, to adopt a new attitude. Deprogram ourselves from a belief, value, thought, habit, routine, etc, that wasn’t aligned with the heart.

It’s necessary to change the vision of life that when we follow a path, it must be defined, it must be a straight line. What for many is to walk aimlessly, wandering, in a higher vision, is to walk, surrendering to life, flowing, passing through the necessary experiences in order to enrich ourselves at another level. It’s dancing with life. The funniest about dancing is flowing with the other and going through all the various positions, steps. Life becomes more interesting and funny if it has a variety of colors, smells, sounds, shapes, experiences, landscapes, etc.

And not knowing what comes next may be one of the best feelings that we could ever have because it focuses us on living in the present moment, the now, and makes us stay open and receptive to the new. Being unexpectadly surprised by the various presents life gives us as when we were children, when all amazed us. This sense of wonder nourishes our soul and makes us open our arms to life. Opens our heart.

When we can see all this in a detached way, we begin to understand life’s wisdom and to trust it. It makes us go through turbulent and dark paths, so we can get where we need to be, in a more enlightened path. We can only recognize the stars because they shine only when everything is dark.

Learning to dance with life and letting ourselves be carried by it, without thinking, without creating resistance, without wanting to control, is a true miracle. When we reach that state, takes place a great internal change. It’s an act of surrendering to a higher will to ours. To a Higher Power. Who loves us above everything. And remembering in every moment of that love is the way to keep us connected to it. A Force that protects us. A Father or Mother who gives us the hand and leads us, in a perfect dance, to the heart, to the path of Love.


Sandra Duarte