À
medida que crescemos, vamos arquivando nas nossas memórias, interpretações que
fazemos da realidade, dos acontecimentos na nossa vida, vamos criando e
absorvendo crenças, ideias do mundo à nossa volta. Trata-se de um arquivo de
segurança, para não voltar a repetir o mesmo caminho quando a experiência não
foi agradável, e para repetir as experiências que nos fizeram sentir bem. Em
muitos destes arquivos, guardamos conceitos, noções, crenças da realidade que
adquirimos com as nossas vivências e com o que absorvemos dos outros à nossa
volta. Só que, por vezes, alguns desses conceitos, crenças, colidem com a nossa
verdadeira natureza, nos limitam. Impedem-nos de vibrar na nossa energia mais
pura. São como nuvens que absorvemos e que nos cobrem, escondendo o nosso
verdadeiro Eu. Criam ilusões e impedem-nos de ver com clareza os outros e as
situações.
Imaginemos
que adquirimos uma crença de que um bom amigo é aquele que está sempre presente
na nossa vida, qualquer que seja a situação. Quando isto não acontece,
colocamos esta amizade em risco. Duvidamos dela. Dá-se o processo da desilusão.
A pessoa não corresponde ao que esperávamos dela. À nossa expectativa dela, à
visão que tinhamos dela.
Porque
atraimos desilusões? Elas só acontecem quando algo em nós, uma crença, um
conceito está elevado demais, quando existe uma expectativa demasiado elevada
de algo ou alguém, quando estamos iludidos com algo ou alguém. Quando não os
vemos com clareza, tal como eles realmente são. Nós atraimos as desilusões
através de pessoas, situações, que nos vêm ajudar a desfazer o que está iludido
em nós. É um processo doloroso mas que a um nível mais elevado, tem um
objectivo positivo. O de nos fazer abrir os olhos, afastar as nuvens, as ideias
enganosas que absorvemos com as nossas vivências.
Será
que no caso acima, um amigo que não esteja sempre presente deixa de ser amigo?
Certamente que não. Cada um de nós tem as suas vidas, os seus compromissos. Pode
acontecer algo inesperado na vida deste amigo que o impossibilita de estar
presente a certa altura, algum tipo de impedimento. Mas isto não o torna menos
amigo.
É
nestas alturas que precisamos redefinir os nossos conceitos, crenças, valores, de
forma a dar liberdade aos outros e a nós próprios. A verdade é que algum
impedimento também pode acontecer da nossa parte e nós não podermos estar
presentes a certa altura.
Quando
esperamos demasiado dos outros, também exigimos demasiado de nós próprios,
inclusive, nos colocamos sob pressão para atingirmos esse ideal que criámos.
Quando as nossas expectativas diminuem em relação ao outro, também deixamos de
exigir tanto de nós próprios, dando-nos a ambos mais liberdade.
Por
vezes, pode acontecer nós termos uma visão de uma pessoa, a qual não
corresponde ao que ela é realmente. É como se a vissemos por entre nuvens. E
estas nuvens são ideias, crenças que temos em relação a certas pessoas, de
acordo com a sua aparência, personalidade, raça, etc. Isto é projectar no outro
uma ideia pré-concebida que temos dele. E só com o tempo, com a convivência é
que vamos conhecendo a pessoa, e as nuvens vão-se afastando, descobrindo a
nossa visão, deixando-nos ver quem a pessoa realmente é. Percebemos que algo
não se encaixa na nossa visão inicial. De alguma forma, a pessoa surge na nossa
vida para desprogramar a nossa forma de pensar, as ideias que temos pré-concebidas,
as crenças que temos em relação a um certo tipo de pessoas.
Sempre
que houver ideias pré-concebidas, preconceitos, crenças desalinhadas com o
coração, etc, nós atraimos pessoas, situações, para nos desprogramar em relação
a isso. Trata-se assim de um processo de desprogramação. É o afastar das nuvens
que nos tapavam a vista, nos cegavam. E este descobrir das nuvens pode
acontecer de duas formas: pela negativa, pela desilusão, pois a primeira visão
da pessoa ou situação era de encantamento, e com o afastar das nuvens dá-se o
desencantamento; e pela positiva, pela admiração, a primeira visão da pessoa ou
situação era de falta de interesse, e com o afastar das nuvens dá-se a
surpresa. Em ambos os casos é um acordar.
Nas
relações de vários tipos, familiares, amorosas, de amizade, etc, temos
tendência para projectar no outro uma ideia pré-concebida, um ideal. Isto significa
que dentro de nós temos um ideal do outro, de acordo com o seu papel, se é pai,
mãe, amante, amigo, filho, professor etc. Se é pai, deve ser proceder assim, se
for amante, deve proceder assado. E assim por diante. E quando a pessoa não
corresponde ao nosso ideal, nós ficamos confusos, desiludidos. Algo não se
encaixa. Inclusive, não conseguimos ver o amor na forma como essa pessoa nos
dá. É preciso ver o outro tal como ele é, para além do seu papel. Um ser que
pode ser complexo, com medos e inseguranças, que nem sempre age de acordo com o
papel que esperamos, que idealizamos. E isto não quer dizer que o amor não
esteja presente. Simplesmente nos é dado de forma diferente do esperado.
O
afastar das nuvens que tapam a nossa visão é um caminho que nos faz voltar a
nós próprios, à nossa verdadeira essência, que nos dá mais liberdade,
alinha-nos com o coração. É um processo que, quando não é compreendido, pode-se
passar por muito sofrimento.
O
segredo para se ultrapassar isto é compreender o processo, perceber a ilusão
que se tem e dissolvê-la. Só quando assumimos a responsabilidade sobre as nossas
desilusões, e agradecemos interiormente ao outro por nos desiludir, nos
desprogramar uma ilusão, ideia pré-concebida ou enganosa, crença, valor, etc,
que temos, poderemos assumir o nosso poder pessoal e voltar a nós próprios. Ao
nosso verdadeiro Eu.
E
quando deixarmos de esperar, o inesperado acontece.
Sandra Duarte
Drifting Away the Clouds
As we grow, we file in our memories,
interpretations we make of reality, of events in our life, we create and absorb
beliefs, ideas of the world around us. This is a security file, so we won’t
repeat the same path when the experience wasn’t pleasant, and to repeat the
experiences that made us feel good. In many of these files, we keep concepts,
notions, beliefs about reality we acquired with our life experiences and with
what we absorbed from others around us. Except that sometimes, some of these concepts,
beliefs, collide with our true nature, limiting us. Preventing us from
vibrating in our purest energy. They’re like clouds we absorb and cover us,
hiding our true Self. They create illusions and prevent us from seeing clearly
others and situations.
Suppose we acquire a belief that a good
friend is the one who’s always present in our life, whatever the situation.
When this doesn’t happen, we put this friendship in jeopardy. We doubt it. The
process of disilluson takes place. The person doesn’t match to what we hoped of
it. To our expectation of it, to the vision we had of it.
Why do we attract disillusions? They
only happen when something in us, a belief, a concept, is to high, when there’s
an expectation too high of something or someone, when we’re deluded with
something or someone. When we don’t see them with clarity, as they really are.
We attract disillusions through people, situations, that come to help us to
undo what’s deluded in us. It’s a painful process but at a higher level, it has
a positive purpose. Making us open our eyes, remove the clouds, the misleading
ideas we absorb from life experiences.
Does in the case above, a friend who’s
not always present stops being a friend? Certainly not. Each one of us has its
own lives, its own commitments. Something unexpected can happen in this
friend’s life that prevents him from being present at some point, some kind of
hindrance. But this doesn’t make him less friend.
That’s when we need to redefine our
concepts, beliefs, values, to give freedom to others and to ourselves. The
truth is that some kind of hindrance may happen to us as well and we may not be
able to be present at a certain point.
When we expect too much of others, we
also expect too much of ourselves, even putting ourselves under pressure to
achieve that ideal we created. When our expectations decrease regarding the
other, we also stop demanding too much of ourselves, giving us both more
freedom.
Sometimes, it can happen we have a vision
of a person, which doesn’t match who it really is. It’s as if we saw it through
clouds. And these clouds are ideas, beliefs we have regarding certain people,
according to their appearance, personality, race, etc. This is projecting on
the other a preconceived idea we have of it. And only over time, getting along
with it is how we get to know the person, and the clouds will drift away, uncovering
our vision, letting us see who the person really is. We realize that something
doesn’t fit our initial vision. Somehow, the person comes into our life to deprogram
our way of thinking, preconceived ideas
we have, beliefs we have regarding a certain kind of people.
Whenever there is preconceived ideas, prejudices,
beliefs misaligned with the heart, etc, we attract people, situations, to
deprogram us regarding that. This is therefore a process of deprogramming. It’s
drifting away the clouds that covered our vision, blinded us. And this uncover
of the clouds can happen in two ways: negatively, through disillusion, because
the first vision of the person or situation was of enchantment, and when removing
the clouds, disenchantment takes place; and positively, through admiration, the
first vision of the person or situation was of lack of interest, and when removing
the clouds, a surprise takes place. It’s an awake in both cases.
In relationships of several types,
family, love affairs, friendships, etc, we have a tendency to project on the
other a preconceived idea, an ideal. This means that within us we have an ideal
of the other, according to its role, wether father, mother, lover, friend, son,
teacher, etc. If it’s a father, he should be doing this, if it’s a lover, he or
she should be doing that. And so on. And when the person doesn’t match our
ideal, we get confused, disappointed. Something
doesn’t fit. We can’t even see the love in the form that person gives us. We need to
see the other as it is, beyond its role. A being that can be complex, with
fears and insecurities, who doesn’t always act according to the role we expect,
we idealize. And this doesn’t mean that love isn’t present. It’s simply given
in a different way than expected.
Drifting away the clouds that cover our
vision is a path that makes us return to ourselves, to our true essence, that
gives us more freedom, aligns us with the heart. It’s a process that, when it’s
not understood, we can go through a great suffering.
The secret to overcome this is to
understand the process, realize the illusion one has and dissolve it. Only when
we take responsibility for our disillusions, and be internally grateful to the
other for disillusioning us, for deprogramming an illusion, preconceived or misleading idea, belief, value, etc, we have,
can we assume our personal power and return to ourselves. To our true Self.
And when we stop expecting, the
unexpected happens.
Sandra Duarte
Sem comentários:
Enviar um comentário