As palavras que usamos
diariamente têm um poder enorme sobre a nossa vida. A maior parte de nós usa-as
sem ter a consciência de que cada palavra possui uma energia associada a ela.
Quando dizemos “alegria”, a energia da palavra é positiva, expansiva e
transbordante, podemos até associá-la à cor amarela, e inclusive, podemos
visualizar um padrão dinâmico, brincalhão ou um som de gargalhada ou ainda um cheiro
de rebuçados. Cada um de nós vai associá-la aos vários sentidos humanos, de
acordo com as experiências, interpretações que fez na sua vida.
Mas quando dizemos a
palavra “esforço”, a energia da palavra é mais pesada, podemos vê-la com a cor
castanha, podemos até nos sentir mais cansados e sentir resistência ao dizê-la.
É uma palavra a que está associada uma dificuldade.
Podemos observar isso no
nosso próprio corpo. Quando estamos alegres, o nosso corpo fica leve,
movimenta-se facilmente, flui. Mas quando estamos a fazer algo em esforço, o
nosso corpo torna-se pesado, rígido, as nossas acções são mais lentas.
Se tomarmos atenção às
palavras que usamos diariamente, podemos reparar em como alimentamos a nossa
energia diária. Se utilizamos muito palavras que tiram a nossa energia ou a
alimentam. E esta utilização não se resume à comunicação com os outros mas
também à comunicação connosco próprios, aos nossos pensamentos.
Quando usamos muito a
expressão “tenho de fazer isto ou aquilo” está associada uma obrigação. E tudo
a que somos “obrigados a” cria em nós resistência, dificuldade ao fazê-lo. Não
o fazemos com prazer e alegria. Se substituirmos essa expressão por “vou fazer
isto ou aquilo” cria assertividade, acção e eficácia. Todo o peso e dificuldade
desaparecem.
A utilização da própria
palavra portuguesa “obrigado”, que utilizamos tão frequentemente no nosso dia-a-dia
para agradecer algo, sem, no entanto, nos apercebermos que a energia associada
à palavra em si não é tão positiva quanto parece. A energia associada à palavra
é pesada, de esforço. “Obrigado” tem origem no estar em dívida com alguém por
um serviço prestado, estar “ligado a” por um favor que alguém nos fez, estar-se
“obrigado” a retribuir. Talvez desta forma a energia que se estabele entre duas
pessoas não seja a melhor. A ideia de dívida entre duas pessoas cria um elo com
uma energia mais pesada, que cria resistência, dificuldade. Mas supondo que
substituimos essa palavra por “grato”, a energia que surge é bem mais positiva
e leve porque estamos a vir do coração, do estar agradecido pelo favor. Não se
fica “obrigado” a retribuir mas fica-se “agradecido” pela gentileza. A ligação
entre as duas pessoas é através do coração e o agradecimento é vivido com
prazer e não por obrigação.
Existem muitos exemplos, é
só estar atento. As palavras que usamos têm um poder tão grande sobre nós e
sobre os nossos estados de espírito que influenciam toda a nossa atitude
perante a vida. O uso frequente da palavra “obrigado” cria em nós uma atitude
de fazer tudo na vida por obrigação e não por prazer. E não só nos afecta a nós
mas também exigimos dos outros e da vida essa obrigação. É importante
reconhecer que ninguém é obrigado a nada. Cada um é livre de retribuir como
sentir que deve fazê-lo. Quando percebemos isso, tudo o que surge na nossa
realidade torna-se num presente. E tudo o que damos aos outros é sem
expectativa de retorno. É dado com o coração. O próprio acto de dar alimenta o
coração mesmo quando o outro não nos retribui. Entramos numa nova forma de
dádiva, livres de qualquer obrigação. O prazer é vivido do próprio acto de dar.
É aqui que vivemos a generosidade. Ser generoso com o outro é dar ao outro sem
qualquer expectativa de retribuição. E a dádiva vai muito para além das coisas
materiais. O próprio acto de perdoar (“forgiving” em inglês, “for-giving”, traduzindo
à letra para português é “para dar”) alguém indica generosidade. Dar ao outro a
possibilidade de errar, de ser imperfeito. Neste estado damos liberdade ao outro
mas também a nós próprios, libertamo-nos de qualquer mágoa que possamos ter,
pois é a mágoa que nos impede de perdoar. Não só somos generosos para com o
outro, mas também para connosco próprios. Dar ao outro é darmo-nos a nós
próprios.
Quando passamos a viver a
nossa vida numa atitude de agradecimento, o mundo muda à nossa volta pois tudo
o que nos acontece, desde o momento em que acordamos até ao momento em que
adormecemos, vivemo-lo com gratidão. Esteja um dia de sol ou de chuva, qualquer
gesto, um sorriso, um olhar, uma palavra, qualquer coisa que nos aconteça,
mesmo quando aparentemente é menos boa, ao estarmos numa atitude de
agradecimento, ficamos abertos, receptivos, positivos e ao nível do coração. Neste
estado, conseguimos ver para além das aparências e ter uma perspectiva superior
das situações. Compreendemos as lições por que passamos, mesmo quando difíceis,
pois tudo é amado neste estado, o bom e o mau. Percebemos que o mau também é
uma grande aprendizagem, pois faz-nos tornar mais fortes para o superar. E é,
por vezes, por esse caminho que a vida nos faz parar para ganhar consciência de
algo que até àquele momento não tinhamos percebido. Realinha-nos para voltar ao
caminho do coração, através do ganhar consciência.
Estar grato é uma
aprendizagem diária. Coloca-nos numa nova perspectiva, mais ampla, de braços
abertos para o mundo. Torna-nos mais humildes. Percebemos que o mundo não gira
à nossa volta, e que este não tem de realizar todos os nossos caprichos.
Deixamos de estar ao serviço do nosso ego – aquela parte de nós que ainda é uma
criança mimada, medrosa, insegura e insatisfeita, que quer que todos os seus
desejos sejam satisfeitos. Pacifica-nos connosco e com a vida em geral. É nesse
estado que se estabelece a verdadeira união com o universo, com o divino.
Sandra Duarte
Obliged or Grateful?
(In Portuguese the word “Obrigado”, translated literally in “obliged”, meaning “thank you”.)
The words we use daily have an enormous power over our life. Most of us
uses them without being aware that each word has an energy associated to it.
When we say “joy”, the energy of the word is positive, expansive and
overflowing, we can associate it with the color yellow, and we can even visualize
a dynamic and playful pattern or a laughing sound or even a smell of candy. Each
one of us will associate it with the various human senses, according to
experiences, interpretations one made in one’s life.
But when we say the word “effort” the energy of the word is heavier, we
can see it with the color brown, we may even feel more tired and with some
resistence when we say it. It’s a word to which is associated a difficulty.
We can observe this in our own body. When we’re happy, our body gets
lighter, moves easily, flows. But when we’re doing something in effort, our
body gets heavier, rigid, our actions are slower.
If we pay attention to the words we use daily, we can notice in how we
nourish our daily energy. If we use many words that take away our energy or
nourish it. And this use isn’t confined to communication with others but also
to comunnication with ourselves, to our own thoughts.
When we use a lot the expression “I have to do this or that” it’s
associated an obligation. And all to which we’re “obliged to” creates in us
resistence, difficulty in doing so. We don’t do it with pleasure and joy. If we
replace that expression for “I’ll do this or that” creates assertiveness,
action and efficacy. All the weight and difficulty disappear.
The use of the very portuguese word “obrigado” (translated literally in “obliged”,
meaning “thank you”), we use so often in our day-to-day to thank something,
without, however, realizing that the energy associated with the word itself isn’t
as positive as it seems. The energy associated with the word is heavy, of
effort. “Obrigado” has its origin in being in debt to someone for a provided
service, to be “linked to” for a favor someone did to us, to be “obliged” to
reward. Perhaps in this way the energy that is established between two people
isn’t the best. The idea of debt between two people creates a bond with a
heavier energy, which creates resistence, difficulty. But if we replace that
word for “grato” (meaning “grateful”), the energy that emerges is far more
positive and lightweight because we’re coming from the heart, from being
grateful for the favor. One’s not “obliged” to reward but “grateful” for the
kindness. The bond between the two people is through the heart and gratitude is
experienced with pleasure and not out of obligation.
There are many examples, we just need to be aware. The words we use have
such a great power over us and over our moods that they influence our whole
attitude towards life. The frequent use of the word “obrigado” creates in us an
attitude of doing everything in life out of obligation and not for pleasure.
And that not only affects us but we also demand of others and of life that
obligation. It’s important to acknowledge that no one is obliged to anything. Everyone
is free to reward as one feels one should do. When we realize that, everything
that arises in our reality becomes a gift. And everything we give to others is
without expectation of return. It’s given from the heart. The very act of
giving nourishes the heart even when the other doesn’t give back. We get into a
new way of giving, free of any obligation. The pleasure is lived through the
very act of giving. This is where we experience generosity. To be generous with
another is to gift the other without any expectation of return. And the gift
goes far beyond material things. The very act of forgiving (for-giving) someone
implies generosity. To give the other the possibility of making mistakes, of
being imperfect. In this state we give freedom to others but also to ourselves,
we free ourselves from any hurt we may have, for it’s the hurt that prevents us
from forgiving. We’re not only generous with others but also with ourselves. To
gift the other is gifting ourselves.
When we begin to live our life with an attitude of gratitude, the world
changes around us for everything that happens to us, from the moment we wake up
until the moment we fall asleep, we live it with gratitude. Be a sunny or rainy
day, any gesture, a smile, a look, a word, anything that happens to us, even
when it’s apparently less good, when we’re in an attitude of gratitude, we’re open,
receptive, positive and at the heart level. In this state, we can see beyond
appearances and have a higher perspective of situations. We acknowledge the lessons
we experience, even when difficult for everything is loved in this state, the
good and the bad. We realize that the bad is also a great learning for it makes
us stronger to overcome it. And it’s sometimes through this path that life
makes us stop to gain consciousness of something that until that moment we failed
to understand. It realigns us to return to the path of the heart, through gaining
consciousness.
To be grateful is a daily learning. It places us in a new perspective,
broader, with open arms to the world. It makes us more humble. We realize the
world doesn’t revolve around us, and this one doesn’t have to accomplish all
our whims. We stop being at the service of our ego – that part of us that still is a spoiled, fearful, insecure and unsatisfied child, which wants all its
wishes to be satisfied. It pacifies us with ourselves and with life in general.
It’s in this state one establishes the true oneness with the universe, with the
divine.
Sandra Duarte
Sem comentários:
Enviar um comentário