O mundo em que vivemos é
composto por pensamentos nossos e dos outros, emoções nossas e dos outros,
crenças, conceitos, etc. Imaginemos que cada um desses pensamentos, emoções,
crenças, são formas abstractas de cores variadas que existem à nossa volta,
formando uma grande nuvem de cores. Quando escolhemos pensar, sentir de
determinada forma, acreditar em algo, é como se agarrássemos uma dessas formas
e as colassemos a nós, porque nos identificamos com ela, como se se tratasse de
uma peça de roupa que nos agrada e que escolhemos vestir. Todos nós conseguimos
perceber, sem ter consciência, todas essas formas à nossa volta e nos outros,
os pensamentos, emoções, crenças, etc, alheios. Só que o que acontece é que os
confundimos como se fossem nossos, porque não percebemos o que é nosso e o que
é do outro. Como não temos consciência deste mundo paralelo, não conseguimos
discriminar quem pensa o quê, quem sente o quê. Simplesmente surgem-nos esses
pensamentos, emoções e identificamo-los como nossos.
Em locais onde se reune
muita gente, como por exemplo, as cidades, sentimos que o ambiente está mais
carregado dessas formas, tornando o dia-a-dia mais confuso, e somos mais
influenciáveis por todas essas formas abstractas, pensamentos, emoções, etc. Só
quando recorremos a locais na natureza, mais desertos, é que encontramos um
maior silêncio, que nos ajuda a perceber o que é realmente nosso.
Uma outra forma de alcançar
esse estado de silêncio é através da meditação. O objectivo de meditar é
silenciar o ruído externo, todos esses pensamentos, emoções, etc, que vêm do
exterior, e voltarmo-nos para dentro, para o nosso Eu interno e o ouvirmos. Entrarmos
em contacto com o que é realmente nosso.
Uma parte de nós vive
focada no mundo exterior. Desenvolveu esta forma de estar porque apenas aprendeu
a ir buscar amor, energia, fora de si, nos outros. Habituou-se a preencher as
necessidades dos outros em troca de atenção e de amor, em detrimento das suas
próprias necessidades. Só que isso torna-nos completamente dependentes dos
outros e do pouco que nos podem dar para nos sentirmos bem connosco. Nem sempre
os outros têm a capacidade de nos agradecer isso, de nos dar em troca o que esperamos
deles. O voltarmo-nos para dentro, para nós, para ouvirmos as nossas
necessidades é uma grande mudança de foco na nossa vida. Só assim podemos estar
em contacto com as nossas emoções, sentimentos, de forma a preenchê-los, a
satisfazê-los. Enquanto esta mudança de foco não acontecer na nossa vida,
vivemos em favor dos outros, esquecendo-nos de nós próprios e vivemos insatisfeitos.
E para preenchermos esse vazio, recorremos a todo o tipo de escapes, de vícios,
tais como a comida, o álcool, o tabaco, a droga, etc.
Porque é tão importante
ouvir as nossas emoções e necessidades?
Porque só assim podemos encontrar
estabilidade e equilíbrio emocional, tranquilidade interior. Só quando estas
necessidades estiverem satisfeitas, poderemos estar calmos o suficiente, para
sabermos o que queremos da nossa vida e fazer as escolhas certas. Enquanto não
alcançarmos este estado, todas as escolhas são baseadas em pensamentos e
crenças alheios, em visões de vida dos outros, que nem sempre nos servem, nem
sempre nos fazem felizes, nem sempre estão alinhadas com o nosso próprio coração.
Quando temos desordens
alimentares, isto é, não temos uma alimentação saudável, é porque estamos a
comer para preencher um vazio. A origem desse vazio é uma necessidade que não
está a ser satisfeita, que não a estamos a ouvir. E por isso recorremos a todo
o tipo de alimentos para preencher esse vazio o mais rápido possível. Por isso
surgem distúrbios alimentares. A solução não passa por apenas fazer dieta ou
reeducar a alimentação, e sim, aprender a ouvirmo-nos, a ouvir e a dar atenção
às nossas reais necessidades. Só assim, estas podem ser realmente satisfeitas.
Quando andamos dispersos e
mentalmente agitados é porque não estamos a dar atenção às nossas necessidades
internas, a ouvir as nossas emoções e sentimentos, e buscamos fora de nós algo
para preencher o vazio que sentimos, o mais rápido possível. Fugimos do que
sentimos. Quanto maior a fuga, maior a agitação. Mas como não nos ouvimos, não
estamos a preencher esse vazio com o que realmente nos satisfaz. Estamos
simplesmente a ignorar essas necessidades e não as satisfazemos como é devido.
E por isso, elas mantêm-se sempre insatisfeitas, sempre pedindo mais,
inquietas. A única forma de acalmá-las é dar-lhes o devido alimento. E para
isso, é preciso ouvi-las.
As próprias doenças que desenvolvemos são sinais de alerta do nosso corpo para lhe darmos atenção, para o ouvirmos. Quando não o ouvimos ao mais pequeno sinal, ele desencadeia doenças mais graves, para chamar a nossa atenção, até que tomemos a decisão de o ouvir, de ouvir e de preencher as suas necessidades.
As próprias doenças que desenvolvemos são sinais de alerta do nosso corpo para lhe darmos atenção, para o ouvirmos. Quando não o ouvimos ao mais pequeno sinal, ele desencadeia doenças mais graves, para chamar a nossa atenção, até que tomemos a decisão de o ouvir, de ouvir e de preencher as suas necessidades.
Por termos nascido numa
sociedade que não valoriza as emoções e sentimentos, e que deu sempre maior
importância à razão, ao que é lógico, muitos de nós não sabemos lidar com as
nossas emoções, necessidades, sentimentos. E por isso fugimos deles. Porque não
os conseguimos controlar. É uma energia instável, que não conseguimos lidar
com, porque crescemos habituados a medir tudo, a racionalizar tudo, a controlar
tudo. E principalmente aprendemos a ir buscar a informação fora de nós, não
dentro de nós. Não aprendemos a ouvir-nos.
É importante perceber que
se as emoções, necessidades, sentimentos, existem é porque eles têm a sua
função, o seu objectivo. Ignorá-los é ignorar uma parte de nós, que é tão
importante para sermos felizes.
Isto acontece porque muitos
de nós, por terem passado por emoções negativas, em que sofreram muito,
recusam-se a sentir. Só que isso também não lhes permite sentir alegria,
felicidade, paixão, amor. É como fechar num baú a capacidade de sentir. Seria
como não sentir nem tristezas nem alegrias. Seria como não ter uma bússola para
a nossa realização pessoal. São as próprias emoções que nos permitem descobrir
o caminho que nos faz feliz. Sem elas não alcançariamos esse estado de
felicidade, de alegria.
Aprender a ouvirmo-nos, a
respeitar o nosso mundo interior, a alimentá-lo como ele precisa, a ouvir e a
satisfazer as nossas necessidades, a dar atenção às nossas emoções e
sentimentos, é uma das maiores mudanças que podemos fazer na nossa vida. Só
assim nos silenciamos internamente e encontramos tranquilidade e estabilidade
emocional. Só assim podemos nos ouvir e perceber a direcção de vida que o nosso
coração quer que sigamos. Só assim podemos abrir o nosso coração para sentir
amor.
Sandra Duarte
I Listen to Myself
The world we live in is made of our own thoughts and others, our own
emotions and others, beliefs, concepts, etc. Imagine that each one of those
thoughts, emotions, beliefs, are abstract shapes of different colors that exist
around us, forming a large cloud of colors. When we choose to think, feel in a
certain way, belief in something, it’s as if we grabbed one of those shapes and
attached it to us, because we identify ourselves with it, as if it was a piece
of clothing that pleases us and we choose to wear. We all can perceive, without
being concious, all those shapes around us and others, thoughts, emotions,
beliefs, etc, of others. What happens is that we get confused as if they were
ours, because we don’t realize what is ours and what is others. Because we are
not aware of this parallel world, we are not able to distinguish who thinks
what and who feels what. These thoughts, emotions simply arise and we identify
them as ours.
In places that gather a lot of people, such as cities, we feel the
environment is more loaded with these shapes, making the day-to-day life more
confusing, and we get more easily influenced by all those abstract shapes,
thoughts, emotions. Only when we go to places in nature, more deserted, that’s
when we find a greater silence, which helps us to realize what is really ours.
Another way to achieve that state of silence is through meditation. The
purpose of meditating is to silence external noise, all those thoughts,
emotions, etc, that come from the outside, and turn ourselves inwards, to our
internal I and listen to it. We get in touch with what is truly ours.
A part of us lives focused in the external world. It developed this way
of being because it learned to get love, energy, only outside itself, in
others. It became used to fill other people’s needs in exchange for attention
and love, at the expense of its own needs. But that makes us completely dependent
on others and on the little they can give us so we feel good about ourselves.
Others don’t always have the ability to thank us for that, to give us what we
expect in return. Turning inwards, to ourselves, listening to our own needs is
a great change of focus in our life. Only then can we get in touch with our
emotions, feelings, in order to fill them, to satisfy them. While this change
of focus doesn’t occur in our life, we live for others, forgetting of
ourselves, and living unsatisfied. And to fill that void, we turn ourselves to
all kinds of escapes, of addictions, such as food, alcohol, smoking, drugs, etc.
Why is it so important to listen to our emotions and needs?
Because only then can we find emotional stability and balance, inner
tranquility. Only when those needs are satisfied, can we be calm enough to know
what we want from our life and to make the right choices. While we don’t reach
that state, all choices are based in thoughts and beliefs of others, in the
visions of life of others, that don’t always serve us, that don’t always make
us happy, that aren’t always aligned with our own heart.
When we have eating disorders, this is, when we don’t have a healthy
diet, that’s because we’re eating to fill a void. The source of this void is a
need which isn’t being satisfied, that we’re not listening to. And because of
that we turn to all sorts of food to fill that void as fast as possible. So
eating disorders arise. The solution isn’t just dieting or reeducating eating,
and yes, listening to ourselves, listening and giving attention to our real
needs. Only then, these can be truly satisfied.
When we’re scattered and mentally agitated it’s because we’re not paying
attention to our inner needs, listening to our emotions and feelings, and we
seek outside ourselves something to fill that void we feel, as fast as
possible. We run from what we feel. The bigger the escape, the
greater the agitation. But
because we don’t listen to ourselves, we’re not filling that void with what really
satisfy us. We’re simply ignoring those needs and we’re not satisfying them as
we should. And therefore, they remain unsatisfied, always asking for more,
restless. The only way to calm them is to give them the proper nourishment. And
for that, we need to listen to them.
The very diseases we develop are warning signs of our body to give it attention, to listen to it. When we don't listen to the slightest sign, it triggers more serious illnesses to call our attention, until we make the decision to listen to it, to listen and to fill its needs.
The very diseases we develop are warning signs of our body to give it attention, to listen to it. When we don't listen to the slightest sign, it triggers more serious illnesses to call our attention, until we make the decision to listen to it, to listen and to fill its needs.
By being born in a society that doesn’t value emotions and feelings, and
that always gave more importance to reason, to what’s logic, many of us don’t
know how to deal with our emotions, needs, feelings. And
therefore we run from them. Because we can’t control them. It’s an unstable energy, which we can’t
deal with, because we grew up, used to measuring everything, rationalizing
everything, controlling everything. And mostly, we learned to seek information
outside us, not inside us. We didn’t learn listening to ourselves.
It’s important to realize that if emotions, needs, feelings, exist it’s
because they have a function, a purpose. To ignore them is to ignore a part of
us which is so important to be happy. This is because many of us have gone
through negative emotions that made them suffer a lot, refusing themselves to feel. But that
also doesn’t allow them to feel joy, happiness, passion, love. It’s like
locking in a trunk the ability to feel. It would be like not feeling nor
sadness nor joy. It would be like not having a compass to our personal
achievement. It’s our own emotions that allow us to discover the path that
makes us feel happy. Without them we couldn’t achieve that state of bliss, of
joy.
Learning to listen to ourselves, to respect our inner world, to nourish
it as it needs, to listen and to satisfy our needs, to give attention to our
emotions and feelings, is one of the major changes we can make in our life.
Only then can we silence ourselves internally and find tranquility and
emotional stability. Only then can we listen to ourselves and perceive the
direction of life that our heart wants us to follow. Only then can we open our
heart to feel love.
Sandra Duarte
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